O mercado imobiliário português, e especificamente os fundos imobiliários, são vistos como um porto seguro em tempos de volatilidade, especialmente quando as taxas de juro estão em níveis baixos. Embora Lisboa tenha descido na classificação de melhor cidade europeia para investir em imobiliário, caindo para a 15ª posição, os investidores internacionais mantêm-se interessados a longo prazo. Cidades como Berlim, Londres e Paris são atualmente mais favorecidas. A dependência do turismo afetou a recuperação económica ibérica, incluindo Portugal, Madrid e Barcelona.
A pandemia teve um impacto no investimento imobiliário em toda a Europa, com quedas em todos os mercados e desafios logísticos para a conclusão de transações, especialmente para investidores internacionais. No entanto, empresas com equipas locais em Portugal, como a Round Hill Capital, conseguiram manter as suas atividades. Kirk Lindstrom, Chief Investment Officer da Round Hill Capital, afirma que a empresa considera os mercados português e espanhol atrativos, sem alteração no risco das suas classes de ativos. O seu foco em Portugal tem sido no alojamento estudantil e na requalificação urbana, onde há um desequilíbrio entre oferta e procura. A Round Hill Capital está comprometida em procurar oportunidades de investimento no mercado ibérico e em Portugal.
Olhando para o passado, Paulo Duarte Sardinheiro, Senior Partner da BlackOAK, explica que a crise do sub-prime forçou uma redefinição económica. A recuperação que se seguiu impulsionou a criatividade, com novas políticas e programas a promoverem o desenvolvimento de negócios, as exportações e o setor do turismo. Portugal conseguiu atrair investimento estrangeiro, beneficiando do florescimento do turismo, do crescimento de startups tecnológicas impulsionado pela Web Summit, e de incentivos como regimes fiscais e programas de residência para investimento (Golden Visa). Miranda Domingos sublinha que fatores intrínsecos como o clima ameno, bons serviços de saúde, profissionais qualificados e um custo de vida relativamente baixo também impulsionaram a procura por diversos tipos de espaços imobiliários, atraindo investimento para a reabilitação de propriedades em centros urbanos como Lisboa e Porto.
Os fundos de investimento imobiliário em Portugal, supervisionados pela CMVM, atraem capital de investidores, frequentemente internacionais, para carteiras de propriedades geridas por especialistas, com o objetivo de espalhar o risco. O mercado de fundos imobiliários em Portugal registou um crescimento no valor dos ativos sob gestão, embora o número de veículos de investimento tenha diminuído. Interfundos, Square Asset Management e Caixa Gestão de Ativos detêm a maior quota de mercado neste setor.
Apesar de uma abordagem mais cautelosa dos investidores, Paulo Sardinheiro da BlackOAK indica que há a intenção de continuar os planos de investimento em Portugal, embora com maior sensibilidade ao risco e um prazo de retorno mais conservador. Ele explica que uma característica do imobiliário é a sua "inelasticidade à volatilidade do mercado", o que leva os investidores profissionais a terem um foco de longo prazo. A BlackOAK acredita que, apesar da incerteza económica, propriedades "core" continuarão a atrair investidores de longo prazo.
No setor imobiliário comercial, Paulo afirma que o segmento de logística tem tido um bom desempenho, impulsionado pelo crescimento do mercado online e mudanças no comportamento do consumidor. Espera-se que esta tendência continue, aumentando a procura e os valores de arrendamento. Para os escritórios, refere que a qualidade dos inquilinos e a oferta limitada de ativos prime deverão contribuir para a manutenção de yields baixos. Ele espera resiliência e forte manutenção dos yields, apesar dos desafios de ocupação e da reavaliação dos espaços pelos inquilinos devido às novas formas de trabalho.
Os setores de retalho e hotelaria foram mais afetados pela pandemia. Duarte Sardinheiro prevê que os centros comerciais se recuperarão com o retorno à normalidade, mas o comércio de rua, dependente do turismo, poderá demorar mais a recuperar e ver um ajuste no preço por metro quadrado com a maior disponibilidade de espaços. A hotelaria, apesar das dificuldades descritas como o seu "pior pesadelo", tem fortes expectativas de uma recuperação sólida na sequência da vacinação e do desejo de viajar das pessoas. Sublinha ainda que Portugal continua a ser um dos principais destinos para viagens e turismo, o que sustenta essas expectativas.
No segmento residencial de gama média-alta e luxo, a procura continua a superar a oferta, mantendo os preços estáveis. A transição de imóveis de arrendamento de curta duração para o mercado de longa duração oferece algum alívio na falta de oferta em áreas centrais, mas não o suficiente para a procura existente. Paulo Sardinheiro assinala que o mercado de luxo, impulsionado pela procura internacional, está agora também a ser alimentado por compradores portugueses. Embora o fim de um programa de vistos em algumas cidades possa ter um impacto negativo no setor residencial, ele prevê que o capital poderá ser transferido para o imobiliário comercial, que não é afetado por essa política. Conclui que os investidores "permanecerão bastante confiantes no mercado", dada a sua resiliência e as oportunidades de investimento contínuas.
Os principais fundos de investimento a considerar incluem Fundimo/Fundiger, CA Património Crescente, Novimovest, Imofomento, Valores e Investimentos Prediais (VIP), Fimes Oriente, Imonegócios e AF Portfólio Imobiliário.
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